quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Berlim - parte II

Eu acho que ainda devo algumas linhas a Berlim.

Não sei exatamente se foi a combinação frio-viajar com desconhecidos-peso histórico mas Berlim me deixou carregada e pensativa. Voltei com uma bagagem mais pesada do que levei. Me baixou um cinza que nem somando São Paulo com Londres eu chegaria nessa tonalidade. Será que uma cidade pode mesmo levar no ar uma vibração tão forte de coisas passadas?

Quando eu entrei na galeria Tacheles, que comentei no post anterior, eu não sabia exatamente do que se tratava. Mas sentar naquele bar escuro, com velhos de caras marcadas fumando cigarros e bebendo cerveja, todos meio escondidos e olhando para baixo, realmente te faz pensar que os berlinenses são tímidos, ariscos. Se escondem. Buscam renovação mas não conseguem esquecer. Comecei a passar um pouco mal, meio engasgada, tomei um vinho, relaxei, mas aquilo ficou em mim.

Eu não tava no clima de festa, não consegui sair com parte do grupo à noite. Quando eles voltaram, contaram que não conseguiram entrar nas baladas. Os caras da porta eram hostis porque, talvez, o grupo fosse barulhento demais, festeiro demais. No metrô, encontramos um boliviano que nos dizia exatamente isso: se você não é low profile, não consegue entrar nos lugares. Você tem que ter seriedade e ser soturno, é o pré-requisito berlinense.

Enfim, lanço todos meus pensamentos pro alto pra ver o que formo. Cheguei à conclusão que eu fui sensível demais prum lugar com uma energia quase tangível. Eu estou aqui, num processo de descobrimento e de dor da distância, cheia de feridas abertas e fui prum dos lugares mais significativo da História do século XX e onde as cicatrizes estão todas evidentes, frescas. Até quando será que os alemães vão carregar esse fardo?

Um comentário:

  1. Ti, qdo vc comentou no post anterior que Berlim era a Berlim dos filmes, pensei nisso: será que é uma cidade tão soturna e austera quanto a imagem que ela passa no cinema? E aqui vc me confirmou que esta foi sua impressão... Uma cidade que carrega seu peso, sua história recente ainda latente... Interessante, mas deve ser uma energia pesada mesmo, hein?! Recarregue as baterias por aí! ;)
    Bjos
    PS: Adorei os posts!

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