segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

... e o ano acabou!

2010 passou rápido demais. Mas foi um ano generoso, confuso e, no mínimo, o ano que minha vida mudou.

Minha vida mudou a partir do momento que descobri uma doença auto-imune em que eu deveria tratar com dieta e exames anuais rigorosos. A intolerância ao glúten não é uma alergia, é uma doença genética que não sara. Eu carrego a vida toda e deveria ser rigorosa para poder fazer meu corpo não se auto-atacar. Se ele se ataca, as consequências podem ser, a longo prazo, eu nunca conseguir me nutrir direito, sem nutrição uma pessoa não funciona, isso pode levar à infertilidade. E também ao câncer de intestino. Mesmo depois de 9 meses da descoberta eu continuo batendo nessa tecla porque a doença celíaca não é só cortar meia dúzia de hábitos. Ela ataca meu corpo.

A partir dessa revolução, descobri que as pessoas acabam se dividindo naquelas que entendem e me ajudam, somente aceitam e, não entendem e não aceitam. Por sorte, eu tenho amigos e familiares que me entendem, ajudam e me policiam. Que ficam de olho comigo nos rótulos, nas novas receitas, em novos estudos sobre possível cura, ou tratamento. Pessoas que eu amo demais e que agradeço todos os dias por tê-las perto do coração. Mesmo mudando de país, fiz novos amigos, e fiz uma família que são os meus companheiros de apartamento, que também se preocupam com a contaminação da cozinha, se podem comer a milanesa na minha frente e se eu estou me sentindo bem ou mal.

A mudança pra Barcelona revolucionou minha vida de outra forma do que a doença celíaca. Mas não foi um wake-up call menos especial. Aqui estou acordando pra vida em outros níveis, e em vários níveis. Sem grana mas muito leve, não persigo dinheiro, reconhecimento, só estou tentando me abrir pra mostrar pros outros como eu sou. Às vezes estou amarga, cansada, triste, frustrada e tento chamar a atenção dos meus amigos de formas paranoicas. Mas isso é cada vez mais raro, pois na maioria das vezes me sinto grata, feliz, ensolarada e sortuda. E tô conseguindo isso por mim mesma, sem depender da estrelinha dourada no boletim e das palavras de alguém.

Ser reconhecida e ser amada é importantíssimo para mim. Mas finalmente, acho eu, estou aprendendo qual é o primeiro lugar que deveria encontrar reconhecimento e amor.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Entornando a gente se diverte mais!



Se eu caio no suingue é pra me consolar...
Pois bem, consegui sair na noite de Barcelona comme il faut.
Começamos no bar que está na foto aí em cima, o Marsella, no Raval. O Raval é um bairro muito interessante, infelizmente tá cheio de imigrante paquistanês e eles podem ser um pouco violentos. Gritam com você na rua, especialmente se você for mulher. Mas o bairro em si é bem bonito, cheio de ruas apertadas e lugares mais antigos.
O Marsella é um desses lugares. Supostamente foi frequentado por Picasso, Dali, Gaudi e onde tomavam o absinto.
Bom, o absinto. É uma bebida forte. Eles te dão dois torrões de açúcar e uma garrafa de água, num pack que vale 5 euros, absinto incluído, e você dissolve o açúcar com a água. Ou queima o açúcar primeiro e apaga com água. Isso tudo ajuda, mas a bebida continua forte e amarga. E não tome dois drinks a não ser que você tenha 2 metros de altura e 100 quilos. Eu tomei e realmente o mundo ficou bem cubista.
De lá fomos para um bar com música, dançar. Acho que o bar se chama Sifó, e a música estava incrível, e quem tocava era um DJ interessantissimo chamado Skymark que curte soul e brazilian music. Mas isso é o tanto que eu lembro da noite. O resto é só um monte de apanhados, recortes de ladrilho modernistas.
Nada mais apropriado para Barcelona.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Dias melhores sempre vêm!



E na Catalunha o sol (quase) sempre brilha.

Parece que foi coisa encomendada pelos céus, mas depois da loucura de Berlim, o tempo em Barcelona só começou a melhorar, e até fez um calorzinho. Isso tudo pra me animar, porque depois da viagem, ainda veio uma virose louca que me deixou baqueada por 4 dias.

Mas... como não há mal que dure pra sempre, cá estou eu de novo, superempolgada pra próxima viagem, me preparando com mais luvas, mais botas e mais roupas térmicas pra Londres de janeiro.
A vida aqui continua no ritmo da cidade. Muito, mas muito mais lento que em SP. Ninguém tem pressa, ninguém anda rápido demais, se você sai 20 minutos antes para um compromisso você chega aonde quer chegar e as lojas continuam fechando no meio da tarde para uma pausa sábia.
Não é difícil viver assim, afinal. É mais saudável e feliz. Não se pode ser infeliz na Catalunha.

Mais uma amiga chegou à cidade, a Robertinha, que veio fazer uma parte do mestrado aqui, por 3 meses. Isso me dá ânimo pra sair às ruas e de quebra aprendo um monte de coisa de arte: a Rô sabe tudo o que se passa na arquitetura, museus e livrarias daqui. Me ajuda com textos pra faculdade, já que ela estuda quase os mesmos temas.

Acho que o bom da vida é esse trânsito, de pessoas, de energias, de altos e baixos, porque nem sempre vamos estar o tempo todo pra cima e nem a vida toda pra baixo. Temos é que ter forças pra esperar as coisas melhorarem e saber que às vezes vamos estar caídos e continuar a contar as bençãos porque dias melhores sempre virão.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Berlim - parte II

Eu acho que ainda devo algumas linhas a Berlim.

Não sei exatamente se foi a combinação frio-viajar com desconhecidos-peso histórico mas Berlim me deixou carregada e pensativa. Voltei com uma bagagem mais pesada do que levei. Me baixou um cinza que nem somando São Paulo com Londres eu chegaria nessa tonalidade. Será que uma cidade pode mesmo levar no ar uma vibração tão forte de coisas passadas?

Quando eu entrei na galeria Tacheles, que comentei no post anterior, eu não sabia exatamente do que se tratava. Mas sentar naquele bar escuro, com velhos de caras marcadas fumando cigarros e bebendo cerveja, todos meio escondidos e olhando para baixo, realmente te faz pensar que os berlinenses são tímidos, ariscos. Se escondem. Buscam renovação mas não conseguem esquecer. Comecei a passar um pouco mal, meio engasgada, tomei um vinho, relaxei, mas aquilo ficou em mim.

Eu não tava no clima de festa, não consegui sair com parte do grupo à noite. Quando eles voltaram, contaram que não conseguiram entrar nas baladas. Os caras da porta eram hostis porque, talvez, o grupo fosse barulhento demais, festeiro demais. No metrô, encontramos um boliviano que nos dizia exatamente isso: se você não é low profile, não consegue entrar nos lugares. Você tem que ter seriedade e ser soturno, é o pré-requisito berlinense.

Enfim, lanço todos meus pensamentos pro alto pra ver o que formo. Cheguei à conclusão que eu fui sensível demais prum lugar com uma energia quase tangível. Eu estou aqui, num processo de descobrimento e de dor da distância, cheia de feridas abertas e fui prum dos lugares mais significativo da História do século XX e onde as cicatrizes estão todas evidentes, frescas. Até quando será que os alemães vão carregar esse fardo?