sexta-feira, 20 de maio de 2011

O dia que conheci Marylin

Pessoal, não vou fazer muito segredo aqui. O meu sabático está acabando e o dinheiro que previ pra esse ano também. Estaria ok se eu realmente fosse pegar aquele avião pra voltar pro Brasil mas muita coisa aconteceu, de maneiras que eu nem desconfiava, porque eu jurava que não ia querer ficar aqui nem por euros. Mas eu me apaixonei pela cidade, por um moço lindo e divertido, eu estou num ritmo de vida mais feliz e queria tentar ir ficando por mais um tempo.

Daí que isso pede por mais dinheiro. E é aí que minha saga começa.
Eu estou enviando currículo pra todos os tipos de trabalho que vejo como possíveis para desempenhar: professora de inglês, garçonete, funcionária de loja, secretária bilingue, produtora editorial, camareira de hostel, mocinha do café, repórter para o Brasil e muitos outros afins. É aquela história, jornalista formada, com anos de experiência em produção editorial, pós-graduada em tendências de mercado AND.... pennyless.
E numa dessas me responde Marylin. Hi Tina, can I call you to make a quick interview on the phone? Calaro, call me anytime! Era pro anúncio da Loquo que pedia por uma menina que fosse bilingue (espanhol/inglês) e soubesse o pacote office para ser secretária de empresário. Esperei um dia inteiro e Mary me liga no dia seguinte, num inglês impecável e fazendo perguntas pertinentes, como se eu poderia trabalhar part-time, o que eu estudava na pós, se eu entenderia o sotaque cockney do chefe, se eu entendo catalão e por aí vai. No final, me disse em bom mineirês, detectado right away: Ói aqui, eu acredito que você saiba espanhol e entenda catalão porque também sou brasileira, sabe? Vou te ligar mais tarde para confirmar uma entrevista pessoalmente com o chefe.

Ok. Bacana, quem sabe a Mary me recomende mais porque somos paisanas, eu devia ter dito que sou filha de mineiro, enfim. E ela me ligou. E se apresentou como Marília. Tá. Ir em meia hora pro endereço tal porque o chefe quer me ver. Eu já tinha ouvido falar na rua que ela me passou, é simplesmente uma das mais chiques de BCN, só coisas de altissimo padrão, tanto lojas como restaurantes e hotéis.
Corri feito uma louca, morrendo de medo de chegar suada e descabelada. Encontro a rua famosa e começo a procurar por lugares com cara de escritório. No alto da minha inocência, nunca tinha me tocado que poderia ser naquele hotel design foda no final da rua. Era lá. Era lá, era lá. Tá certo, mega empresários fazem reuniões em hotéis, né?
Entro no hotel e todos meio que fazem aquelas saudações e fique a vontade por favor, desça até o restaurante onde te esperam. Na ponta da escada, ela. Marília, nome de guerra, Marylin Starling. Loira, decotada, cajal, rimel e tudo a que tinha direito. Me recebe com amor de conterrânea mesmo, me levou até o sofazinho, queria conversar e saber de mim. E eu só queria perguntar uma coisa: Mary, pelo amor, do que se trata esse trabalho, mesmo? E ela deu voltas, e voltas, não sei o que é, o quanto paga e só sei que comigo você não trabalha, são escritórios diferentes. Ãããããnnnn, sei. Liga O chefe. Podiamos adentrar o recinto do piano-bar. Quando vejo The Boss, momento tremedeira. Ele não era aquele inglês engravatado e loiro. Tá ligado no Snatch, filme do Guy Ritchie? Então. Daí eu me senti num filme, só faltava aparecer o Vinnie Jones. Bem, o Paul era bem alto, bem musculoso, com a camisa bem justa e com os braços bem tatuados. Também usava um óculos a la D&G na cabeça.
Eu tremia tanto pra entregar o curriculo,- (por insistência da Marilia, porque ele disse que tudo o que precisava ver e saber já estava lá na sua frente), que eu acho que ele percebeu que tipo de trabalho eu tava procurando e que de repente não era o que ele oferecia. Daí ele começou a falar coisas non-sense, que precisava de alguém que já tenha uma fonte de renda, porque na verdade nem vai pagar muito, e que eu provavelmente estava procurando algo pra pagar as contas e que realmente não me encaixava no perfil que ele buscava. E eu concordei com tudo, não mesmo, tô fora, não vou escrever um livro como o da Bruna Surfistinha anyway, mate.
Agradeci, levantei e saí com a dignidade intacta e ainda fiz a amiga da Mary, soltei um "qualquer coisa me liga".

Na volta, de bicicleta, eu ria compulsivamente. Talvez pelo nervosismo, ou pela situação insólita, ou pela minha inocência completa aos 32 anos. Agradeci a Deus por não ter sido forçada a um teste do sofá e por ter conhecido um suposto gangsta-pimp mais simpático possível.

Mas a saga continua! E o verão ainda nem começou. Certamente alguma coisa encontro por aí, que seja pelo menos remunerado e minimamente licito.

4 comentários:

  1. Tinoca!!!!! Jesuis, tô besta!!! E eu torcendo enquanto lia, achando q vc ia arrumar um super emprego, tipo o diabo veste prada, sabe??? Só me liguei do que se tratava realmente a hr q vc já tava indo embora... Santa inocência!!!

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  2. eu tb já tava imaginando O Diabo Veste Prada aqui!! hahahahhahahaha

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  3. Sério! Imagino o seu cv, com todo histórico profissional, cursos e tal e o cuidado em fazer uma tradução...e a única parte em que realmente prestaram atenção foi na nacionalidade.
    Pelo menos rendeu uma boa história! Tô rindo muito! Queria tanto ter te visto saindo da entrevista hahahahaha

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  4. Caramba, eu riindo d enervoso tbem só imaginando a situação. Caracas!!!!

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