2010 passou rápido demais. Mas foi um ano generoso, confuso e, no mínimo, o ano que minha vida mudou.
Minha vida mudou a partir do momento que descobri uma doença auto-imune em que eu deveria tratar com dieta e exames anuais rigorosos. A intolerância ao glúten não é uma alergia, é uma doença genética que não sara. Eu carrego a vida toda e deveria ser rigorosa para poder fazer meu corpo não se auto-atacar. Se ele se ataca, as consequências podem ser, a longo prazo, eu nunca conseguir me nutrir direito, sem nutrição uma pessoa não funciona, isso pode levar à infertilidade. E também ao câncer de intestino. Mesmo depois de 9 meses da descoberta eu continuo batendo nessa tecla porque a doença celíaca não é só cortar meia dúzia de hábitos. Ela ataca meu corpo.
A partir dessa revolução, descobri que as pessoas acabam se dividindo naquelas que entendem e me ajudam, somente aceitam e, não entendem e não aceitam. Por sorte, eu tenho amigos e familiares que me entendem, ajudam e me policiam. Que ficam de olho comigo nos rótulos, nas novas receitas, em novos estudos sobre possível cura, ou tratamento. Pessoas que eu amo demais e que agradeço todos os dias por tê-las perto do coração. Mesmo mudando de país, fiz novos amigos, e fiz uma família que são os meus companheiros de apartamento, que também se preocupam com a contaminação da cozinha, se podem comer a milanesa na minha frente e se eu estou me sentindo bem ou mal.
A mudança pra Barcelona revolucionou minha vida de outra forma do que a doença celíaca. Mas não foi um wake-up call menos especial. Aqui estou acordando pra vida em outros níveis, e em vários níveis. Sem grana mas muito leve, não persigo dinheiro, reconhecimento, só estou tentando me abrir pra mostrar pros outros como eu sou. Às vezes estou amarga, cansada, triste, frustrada e tento chamar a atenção dos meus amigos de formas paranoicas. Mas isso é cada vez mais raro, pois na maioria das vezes me sinto grata, feliz, ensolarada e sortuda. E tô conseguindo isso por mim mesma, sem depender da estrelinha dourada no boletim e das palavras de alguém.
Ser reconhecida e ser amada é importantíssimo para mim. Mas finalmente, acho eu, estou aprendendo qual é o primeiro lugar que deveria encontrar reconhecimento e amor.